terça-feira, 14 de dezembro de 2010

EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO CAPÍTULO V



Bem e mal sofrer
18. Quando o Cristo disse: "Bem-aventurados os aflitos, o reino dos céus lhes
pertence", não se referia de modo geral aos que sofrem, visto que sofrem todos os que se
encontram na Terra, quer ocupem tronos, quer jazam sobre a palha. Mas, ah! poucos sofrem
bem; poucos compreendem que somente as provas bem suportadas podem conduzi-los ao
reino de Deus. O desânimo é uma falta. Deus vos recusa consolações, desde que vos falte
coragem. A prece é um apoio para a alma; contudo, não basta: é preciso tenha por base uma
fé viva na bondade de Deus. Ele já muitas vezes vos disse que não coloca fardos pesados em
ombros fracos. O fardo é proporcionado às forças, como a recompensa o será à resignação e à
coragem. Mais opulenta será a recompensa, do que penosa a aflição. Cumpre, porém, merecêla,
e é para isso que a vida se apresenta cheia de tribulações.
O militar que não é mandado para as linhas de fogo fica descontente, porque o
repouso no campo nenhuma ascensão de posto lhe faculta. Sede, pois, como o militar e não
desejeis um repouso em que o vosso corpo se enervaria e se entorpeceria a vossa alma.
Alegrai-vos, quando Deus vos enviar para a luta. Não consiste esta no fogo
da batalha, mas nos amargores da vida, onde, às vezes, de mais coragem se há mister do que
num combate sangrento, porquanto não é raro que aquele que se mantém firme em presença
do inimigo fraqueje nas tenazes de uma pena moral. Nenhuma recompensa obtém o homem
por essa espécie de coragem; mas, Deus lhe reserva palmas de vitória e uma situação gloriosa.
Quando vos advenha uma causa de sofrimento ou de contrariedade, sobreponde-vos a ela, e,
quando houverdes conseguido dominar os ímpetos da impaciência, da cólera, ou do
desespero, dizei, de vós para convosco, cheio de justa satisfação: "Fui o mais forte."
Bem-aventurados os aflitos pode então traduzir-se assim: Bem-aventurados os que
têm ocasião de provar sua fé, sua firmeza, sua perseverança e sua submissão à vontade de
Deus, porque terão centuplicada a alegria que lhes falta na Terra, porque depois do labor virá
o repouso. - Lacordaire. (Havre, 1863.)

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