sábado, 30 de abril de 2011

ENTREVISTA COM ARNALDO ROCHA



Chico Xavier foi Ruth Céline Japhet

Por Marcelo José De Belo Horizonte – MG
Muito se pergunta no movimento espírita, quem foi quem? Geralmente a resposta descabida de credibilidade, seja pela fonte ou pela própria informação, não é considerada verídica pela maioria das pessoas. Por outro lado, quando apresentamos pilares fundamentados, baseados em estudos, depoimentos de espíritos encarnados ou desencarnados de credibilidade e estamos fincados na razão tão bem ensinada pelo exemplo do codificador, a informação é considerada verdadeira. O Correio Espírita não quer delinear esta matéria para o caminho do sensacionalismo ou, simplesmente, para o da curiosidade. Pelo contrário, o assunto tem cunho educativo, instrutivo e elucidador. No comentário da pergunta 399 de “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec escreve que: “… Mergulhado na vida corpórea, perde o Espírito, momentaneamente, a lembrança de suas existências anteriores, como se um véu as cobrisse. Todavia, conserva algumas vezes vaga consciência dessas vidas, que, mesmo em certas circunstâncias, lhe podem ser reveladas. Esta revelação, porém, só os Espíritos superiores espontaneamente lha fazem, com um fim útil, nunca para satisfazer a vã curiosidade…” Em entrevista exclusiva, feita em Belo Horizonte, para o Correio Espírita, o médium e ex-marido de Meimei, Arnaldo Rocha, nos revela dados importantes sobre as encarnações pretéritas de Chico Xavier, do qual era amigo particular.
Correio Espírita: Como e quando você teve o primeiro contato com a Doutrina Espírita?
Arnaldo Rocha: Eu sou de uma família espírita, mas era ateu e materialista. Meimei apareceu com um problema renal, que se complicou, e a levou a desencarnação no dia 1º de outubro de 1946. No dia 12, eu caminhava pela rua sob uma forte chuva e para me proteger do temporal me dirigi à casa da minha irmã Luiza, onde estava se realizando uma reunião espírita. Não gostei muito da idéia, mas entrei. Quando uma médium encorporou, aquilo tudo foi muito estranho para mim. Me chamou a atenção quando ela empurrou o casaco dela com os polegares para trás. Meimei fazia a mesma coisa. O doutrinador perguntou se aquele espírito gostaria de se manifestar. Depois eu ouvi a voz da Meimei claramente dizendo: “Rialmente (como Meimei falava) eu gostaria, mas o meu sozinho não vai entender”. Acabou a reunião e no dia seguinte eu me encontrei com o Dr. Camilo Chaves, que na época era presidente da União Espírita Mineira. Ele me disse que na reunião mediúnica, a benfeitora espiritual Ritinha estava muito feliz, porque uma amiga muito querida foi esclarecida. Eu perguntei quem era e ele me respondeu: Irma de Castro, esposa do Sr. Arnaldo Rocha. Aí ele me explicou um pouco sobre a Doutrina Espírita e pediu para que eu lesse “O Livro dos Espíritos”. Correio Espírita: Como e quando você encontrou Chico Xavier, pela primeira vez, nesta encarnação? Arnaldo Rocha: Eu subia a Av. Santos Dumont, em Belo Horizonte, e descia um homem modestamente trajado, de chapéu, com uma bolsa na mão. Eu dei um “encontrão” nesse homem e reconheci que era o Chico Xavier. Queria falar com ele, mas fiquei emocionado. Sem me conhecer, ele disse: “Pois é Naldinho. A nossa princesinha está aqui e quer falar com você”. Eu tinha o hábito de chamar Meimei de princesinha. Fomos para casa dele e fizemos uma reunião. Através de uma psicofônia, eu pude conversar com Meimei durante uma hora e meia. Aí, eu realmente comecei a estudar a Doutrina Espírita. Mais tarde, um componente do grupo me convidou para trabalhar e disse: “Você que comandou muitas guerras, agora vai ter que consolar”.
Correio Espírita: Atualmente, como os espíritos inferiores tentam anular esse trabalho de amor?
Arnaldo Rocha: Uma entidade se aproximou do trabalho de doutrinação e disse: “Não me convenceu e não fui vencido”. Eu disse que nós o havíamos dado de presente O Evangelho Segundo o Espiritismo e perguntei se ele teria lido. O espírito respondeu que quando o livro é aberto sai muita luz e por isso ele não queria. A entidade informou que estava combatendo a Doutrina Espírita através do púlpito, do jornal, do rádio e da televisão. Ou seja, influenciando os próprios praticantes. E, afinal de contas, de alguns anos para cá, quanta confusão existe no meio espírita. As pessoas estão se deixando levar pela vaidade, pela fantasia e estão criando muita confusão no nosso meio. Nós precisamos ser mais sinceros com a Doutrina Espírita.
Correio Espírita: Qual foi a encarnação anterior de Chico Xavier?
Arnaldo Rocha: O Pedro Quintana, casado com Geralda, irmã de Chico Xavier, era amigo do compositor Radamés Gnatalli. Fomos a Pedro Leopoldo para falar com Chico. Emmanuel, numa página muito linda, disse que o Radamés era a reencarnação de Rossini. Radamés confirmou dizendo que quando compunha via Rossini. Em “Obras Póstumas”, encontramos algumas mensagens de Rossini. O Bom não era você conversar com o Chico, era o Chico conversar com você. Eu sabia perfeitamente quando era o Chico que estava falando ou quando ele estava sob a inspiração dos espíritos. Um dia, eu perguntei a ele que em “Obras Póstumas”, o Professor Rivail se reunia na casa do Sr. Roustan para o espírito de verdade fazer a correção daquilo que seria “O Livro dos Espíritos”, ou então na Casa do Sr. Japhet – pronunciei o ph com som de f – e ele me corrigiu dizendo que era Japhet – ph com som de p – confirmando que o nome tinha descendência judaica. E aí eu perguntei: quem é aquela loira de olhos azuis com o nome de Ruth Céline Japhet, que ajudava Kardec na codificação? Ele me respondeu: você está falando com ela. Então você vai ver a linha da mediunidade nessa criatura como cresceu agora como Chico. Não se improvisa um médium. Isso é um processo muito delicado, doloroso, de sofrimento e de alegria.
Correio Espírita: Porque você não revelou isto anteriormente? Porque só agora?
Arnaldo Rocha: Porque o Chico me disse para não revelar enquanto ele estivesse reencarnado. Mas agora, diante de tantas coisas erradas que estão falando por aí, decidi falar. Não tenho medo do que vão dizer a partir disso. Eu uso uma expressão que Chico Xavier ria muito: “a caravana passa e os cães ladram”. Para confirmar as encarnações femininas, Chico falava para mim que quando voltasse ao plano espiritual iria pedir a verdadeira roupa dele (feminina), porque aquela que estava usando (masculina), ele não considerava dele.
Correio Espírita: Há quantos anos você estuda, desenvolve e o que é preciso para exercer a mediunidade?
Arnaldo Rocha: Há aproximadamente 60 anos. Nesses anos todos, eu já vi médiuns e expositores doutrinários que caminharam com tanta beleza, mas com o tempo, alguns se deixaram levar pela vaidade, orgulho, fantasia e dinheiro. Para ser médium é preciso estudo, humildade e simplicidade e, fundamentalmente, o que o espírito Emmanuel falou para Chico Xavier no Riacho do Capão em Pedro Leopoldo: disciplina, disciplina e disciplina.
Correio Espírita: Qual a mensagem que você daria para os leitores do Correio Espírita?
Arnaldo Rocha: Eu recordaria que eles soubessem dignificar a Doutrina Espírita. A mensagem de amor e fraternidade do excelso amigo Jesus. E que nós saibamos, através da humildade e da sinceridade, fazer aquilo que Emmanuel escreveu no livro “A Caminho da Luz”.
Jornal Correio Espírita – junho de 2010

A fé: mãe da esperança e da caridade


11. Para ser proveitosa, a fé tem de ser ativa; não deve entorpecer-se. Mãe de todas as virtudes que conduzem a Deus, cumpre-lhe velar atentamente pelo desenvolvimento dos filhos que gerou.
A esperança e a caridade são corolários da fé e formam com esta uma trindade inseparável. Não é a fé que faculta a esperança na realização das promessas do Senhor? Se não tiverdes fé, que esperareis? Não é a fé que dá o amor? Se não tendes fé, qual será o vosso reconhecimento e, portanto, o vosso amor?
Inspiração divina, a fé desperta todos os instintos nobres que encaminham o homem para o bem. É a base da regeneração. Preciso é, pois, que essa base seja forte e durável, porquanto, se a mais ligeira dúvida a abalar que será do edifício que sobre ela construirdes?
Levantai, conseguintemente, esse edifício sobre alicerces inamovíveis. Seja mais forte a vossa fé do que os sofismas e as zombarias dos incrédulos, visto que a fé que não afronta o ridículo dos homens não é fé verdadeira.
A fé sincera é empolgante e contagiosa; comunica-se aos que não na tinham, ou, mesmo, não desejariam tê-la. Encontra palavras persuasivas que vão à alma. ao passo que a fé aparente usa de palavras sonoras que deixam frio e indiferente quem as escuta. Pregai pelo exemplo da vossa fé, para a incutirdes nos homens. Pregai pelo exemplo das vossas obras para lhes demonstrardes o merecimento da fé. Pregai pela vossa esperança firme, para lhes dardes a ver a confiança que fortifica e põe a criatura em condições de enfrentar todas as vicissitudes da vida.
Tende, pois, a fé, com o que ela contém de belo e de bom, com a sua pureza, com a sua racionalidade. Não admitais a fé sem comprovação, cega filha da cegueira. Amai a Deus, mas sabendo porque o amais; crede nas suas promessas, mas sabendo porque acreditais nelas; segui os nossos conselhos, mas compenetrados do um que vos apontamos e dos meios que vos trazemos para o atingirdes. Crede e esperai sem desfalecimento: os milagres são obras da fé. - José, Espírito protetor. (Bordéus, 1862.)

sexta-feira, 29 de abril de 2011

O óbolo da viúva


5. Estando Jesus sentado defronte do gazofilácio, a observar de que modo o povo lançava ali o dinheiro, viu que muitas pessoas ricas o deitavam em abundância. - Nisso, veio também uma pobre que apenas deitou duas pequenas moedas do valor de dez centavos cada uma. - Chamando então seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deu muito mais do que todos os que antes puseram suas dádivas no gazofilácio; - por isso que todos os outros deram do que lhes abunda, ao passo que ela deu do que lhe faz falta, deu mesmo tudo o que tinha para seu sustento. (SÃO MARCOS, cap. XII, vv. 41 a 44. - S. LUCAS, cap. XXI. vv. 1 a 4.)


6. Multa gente deplora não poder fazer todo o bem que desejara, por falta de recursos suficientes, e, se desejam possuir riquezas, é, dizem, para lhes dar boa aplicação. E sem dúvida louvável a intenção e pode até nalguns ser sincera. Dar-se-á, contudo, seja completamente desinteressada em todos? Não haverá quem, desejando fazer bem aos outros, muito estimaria poder começar por fazê-lo a si próprio, por proporcionar a si mesmo alguns gozos mais, por usufruir de um pouco do supérfluo que lhe falta, pronto a dar aos pobres o resto? Esta segunda intenção, que esses tais porventura dissimulam aos seus próprios olhos, mas que se lhes depararia no fundo dos seus corações, se eles os perscrutassem, anula o mérito do intento, visto que, com a verdadeira caridade, o homem pensa nos outros antes de pensar em si O ponto sublimado da caridade, nesse caso, estaria em procurar ele no seu trabalho, pelo emprego de suas forças, de sua inteligência, de seus talentos, os recursos de que carece para realizar seus generosos propósitos. Haveria nisso o sacrifício que mais agrada ao Senhor.
Infelizmente, a maioria vive a sonhar com os meios de mais facilmente se enriquecer de súbito e sem esforço, correndo atrás de quimeras, quais a descoberta de tesouros, de uma favorável ensancha aleatória, do recebimento de inesperadas heranças, etc. Que dizer dos que esperam encontrar nos Espíritos auxiliares que os secundem na consecução de tais objetivos? Certamente não conhecem, nem compreendem a sagrada finalidade do Espiritismo e, ainda
menos, a missão dos Espíritos a quem Deus permite se comuniquem com os homens. Daí vem o serem punidos pelas decepções. (O Livro dos Médiuns, 2a Parte, no 294 e no 295.)
Aqueles cuja intenção está isenta de qualquer idéia pessoal, devem consolar-se da impossibilidade em que se vêem de fazer todo o bem que desejariam, lembrando-se de que o óbolo do pobre, do que dá privando-se do necessário, pesa mais na balança de Deus do que o ouro do rico que dá sem se privar de coisa alguma. Grande seria realmente a satisfação do primeiro, se pudesse socorrer, em larga escala, a indigência; mas, se essa satisfação lhe é negada, submeta-se e se limite a fazer o que possa. Aliás, será só com o dinheiro que se podem secar lágrimas e dever-se-á ficar inativo, desde que se não tenha dinheiro? Todo aquele que sinceramente deseja ser útil a seus irmãos, mil ocasiões encontrará de realizar o seu desejo. Procure-as e elas se lhe depararão; se não for de um modo, será de outro, porque ninguém há que, no pleno gozo de suas faculdades, não possa prestar um serviço qualquer, prodigalizar um consolo, minorar um sofrimento físico ou moral, fazer um esforço útil. Não dispõem todos, à falta de dinheiro, do seu trabalho, do seu tempo, do seu repouso, para de tudo isso dar uma parte ao próximo? Também aí está a dádiva do pobre, o óbolo da viúva.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Enquanto é Dia



"Convém que eu faça as obras dAquele que me enviou, enquanto é dia." - Jesus. (JOÃO, capítulo 9, versículo 4.)
Sabemos que o labor divino do Mestre é incessante e efetua-se num dia perene e resplandecente de oportunidades; no entanto, para gravar-nos no en tendimento o valor real da passagem na Terra, fala-nos Jesus de sua conveniência em aproveitar o ensejo do contacto direto com as criaturas.
Se semelhante atitude constitui motivo de preocupação para o Mestre, que não dizer de nós mesmos, nos círculos carnais ou nas esferas que lhes são imediatas, dentro das obrigações que nos competem na sagrada realização do bem eterno?
Cristo não se refere à necessidade de falar das obras de Deus, mas, sim, de construi-las a seu tempo.
Não ignoramos que, sendo Ele o Enviado do Altíssimo no mundo, os discípulos da Boa Nova são, a seu turno, os mensageiros do seu amor, nos mais recônditos lugares do orbe terrestre. Os que vibram de coração voltado para o Evangelho SãO, efetivamente, emissários da Divina Lição entre os companheiros da vida material, onde quer que estejam, e bem-aventurados serão todos aqueles que aproveitarem o dia generoso, realizando em si próprios e em derredor de seus passos as obras santificadas dAquele que os enviou.
Jamais desdenhes, desse modo, a posição em que te encontrares. Busca valorizá-la, através de todos os meios ao teu alcance, a fim de que teu esforço seja uma fonte de bênçãos para os outros e para teu próprio círculo. Nunca te esqueças de aproveitar o tempo na aquisição de luz, enquanto é dia.
Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Caminho, Verdade e Vida. Ditado pelo Espírito Emmanuel. 28 edição. Capítulo 127. Brasília: FEB. 2009.

A lei de amor


8. O amor resume a doutrina de Jesus toda inteira, visto que esse é o sentimento por excelência, e os sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso feito. Em sua origem, o homem só tem instintos; quando mais avançado e corrompido, só tem sensações; quando instruído e depurado, tem sentimentos. E o ponto delicado do sentimento é o amor, não o amor no sentido vulgar do termo, mas esse sol interior que condensa e reúne em seu ardente foco todas as aspirações e todas as revelações sobre-humanas. A lei de amor substitui a personalidade pela fusão dos seres; extingue as misérias sociais. Ditoso aquele que, ultrapassando a sua humanidade, ama com amplo amor os seus irmãos em sofrimento! ditoso aquele que ama, pois não conhece a miséria da alma, nem a do corpo. Tem ligeiros os pés e vive como que transportado, fora de si mesmo. Quando Jesus pronunciou a divina palavra - amor, os povos sobressaltaram-se e os mártires, ébrios de esperança, desceram ao circo. O Espiritismo a seu turno vem pronunciar uma segunda palavra do alfabeto divino. Estai atentos, pois que essa palavra ergue a lápide dos túmulos vazios, e a reencarnação, triunfando da morte, revela às criaturas deslumbradas o seu patrimônio intelectual. Já não é ao suplício que ela conduz o homem: condu-lo à conquista do seu ser, elevado e transfigurado. O sangue resgatou o Espírito e o Espírito tem hoje que resgatar da matéria o homem. Disse eu que em seus começos o homem só instintos possuía. Mais próximo, portanto, ainda se acha do ponto de partida, do que da meta, aquele em quem predominam os instintos. A fim de avançar para a meta, tem a criatura que vencer os instintos, em proveito dos sentimentos, isto é, que aperfeiçoar estes últimos, sufocando os germes latentes da matéria. Os instintos são a germinação e os embriões do sentimento; trazem consigo o  progresso, como a glande encerra em si o carvalho, e os seres menos adiantados são os que, emergindo pouco a pouco de suas crisálidas, se conservam escravizados aos instintos. O Espírito precisa ser cultivado, como um campo. Toda a riqueza futura depende do labor atual, que vos granjeará muito mais do que bens terrenos: a elevação gloriosa. E então que, compreendendo   a lei de amor que liga todos os seres, buscareis nela os gozos suavíssimos da alma, prelúdios das alegrias celestes. - Lázaro. (Paris, 1862.)

quarta-feira, 27 de abril de 2011

LEI DA VIDA



Indagas, muita vez, alma querida e boa,
Como recuperar a fé perdida,
Quando alguém te vergasta o coração e a vida,
A ofender e ferir, a espancar e humilhar. . .
Sai de ti mesmo e fita o mundo em torno,
Todas as forças lutam, entretanto,
A natureza pede em cada canto:
Renovar, renovar. . .
A noite envolve a terra em longa faixa,
Mas a terra em silêncio espera o dia
E o sol dissipa a névoa espessa e fria,
Simplesmente a brilhar. . .
Alteia-se a manhã, o trabalho enxameia. . .
Do pó ao firmamento em novo brilho,
Ouve-se, em toda parte, o sagrado estribilho:
Renovar, renovar.
A semente lançada ao barro agreste
Sobre o assalto do lodo que a devora,
Mas o embrião resiste, luta e aflora,
No anseio de ser pão e alegria no lar. . .
A princípio, é um rebento pobre e frágil,
Tolera praga e temporal violento,
Faz-se árvore linda e canta entre as notas do vento:
Renovar, renovar. . .
Arrebatada a pedra ao chão da furna
Quer descanso, sem garbos de obra – prima,
Contudo, o artista chega, corta e lima
A brumir e a sonhar. . .
Ei-la que escala os topos da escultura
E, estátua em que se estampa a essência da beleza,
Diz à vida que a busca, encantada e surpresa:
Renovar, renovar. . .
Assim também, alma querida e boa,
Se alguém te impôs olvido, abandono e amargura,
Segue, serve e perdoa o golpe que te apura,
Esquecendo o desprezo e procurando amar. . .
E ouvirás claramente, entre ascensões mais belas,
Ante a fé no porvir luminoso e risonho,
A própria voz do céu, ao restaurar-te o sonho:
Renovar, renovar. . .

Maria Dolores

Os órfãos


l8. Meus irmãos, amai os órfãos. Se soubésseis quanto é triste ser só e abandonado, sobretudo na infância! Deus permite que haja órfãos, para exortar-nos a servir-lhes de pais. Que divina caridade amparar uma pobre criaturinha abandonada, evitar que sofra fome e frio, dirigir-lhe a alma, a fim de que não desgarre para o vício! Agrada a Deus quem estende a mão a uma criança abandonada, porque compreende e pratica a sua lei. Ponderai também que muitas vezes a criança que socorreis vos foi cara noutra encarnação, caso em que, se pudésseis lembrar-vos, já não estaríeis praticando a caridade, mas cumprindo um dever. Assim, pois, meus amigos, todo sofredor é vosso irmão e tem direito à vossa caridade: não, porém, a essa caridade que magoa o coração, não a essa esmola que queima a mão em que cai, pois freqüentemente bem amargos são os vossos óbolos! Quantas vezes seriam eles recusados, se na choupana a enfermidade e a miséria não os estivessem esperando! Dai delicadamente, juntai ao beneficio que fizerdes o mais precioso de todos os benefícios: o de uma boa palavra, de uma carícia, de um sorriso amistoso. Evitai esse ar de proteção, que eqüivale a revolver a lâmina no coração que sangra e considerai que, fazendo o bem, trabalhais por vós mesmos e pelos vossos. - Um Espírito familiar. (Paris, 1860.)

terça-feira, 26 de abril de 2011

Criancas Excepcionais e o Suicidio



"Minha filha, a maternidade é um privilégio que DEUS concedeu à mulher; então, toda mulher desfruta desse privilégio da Providência Divina, mas, os filhos excepcionais são confiados tão somente às grandes mulheres que têm capacidade de amar até o infinito." - Emmanuel

Chico Xavier confortou, ao longo de sua vida, mães de crianças excepcionais. Sentimentos se misturavam, o amor de mãe ao inconformismo diante de uma situação irreversível. O mesmo sofrimento enfrentado por mães de lugares diferentes do Brasil - a dificuldade de compreensão, muitas vezes a revolta, o desespero.
À cada uma, Chico dispensou sua atenção e compreensão. Aliviava com suas palavras os corações repletos de sofrimento.
Atualmente não mais dizemos crianças excepcionais, mais sim especiais. Extraímos três momentos no qual Chico foi solicitado para esclarecer esse tema à luz do Espiritismo. E esperamos que eles possam confortar e fortalecer todos os pais especiais.
Que a mensagem de Emmanuel no começo desse artigo sirva de incentivo a todos os pais, mães, tios, avós, irmãos, amigos especiais que têm o privilégio de receber crianças especiais em seu convívio. O amor compreende e aceita tudo, mas o preconceito não.
E, a nós, que ainda não somos pais, mães, tios, avós, irmãos ou amigos especiais, que possamos dispensar a nossa compaixão e caridade à todas essas crianças que necessitam tanto de um minuto de nossa atenção e respeito.

"Certa senhora procurou o Chico com uma criança nos braços e lhe disse:
- Chico, meu filho nasceu surdo, mudo, cego e sem os dois braços. Agora está com uma doença nas pernas e os médicos querem amputar as duas para salvar a vida dele. Há uma resposta para mim no Espiritismo?
Foi com a intervenção de Emmanuel que a resposta veio:
Chico, explique à nossa irmã que este nosso irmão em seus braços suicidou-se nas dez últimas encarnações e pediu, antes de nascer, que lhe fossem retiradas todas as possibilidades de se matar novamente. Mas, agora que está aproximadamente com cinco anos, procura um rio, um precipício para se atirar. Avise nossa irmã que os médicos amigos estão com a razão. As duas pernas dele vão ser amputadas, em seu próprio benefício, para que ele fique mais algum tempo na Terra, a fim de que diminua a idéia do suicídio." (p. 35)
  
 Os Excepcionais
(Do Programa Hebe Camargo - Especial de Natal com Chico Xavier - TV Bandeirantes)
 Pergunta- Gostaria de saber se uma criança excepcional é carma, que a gente diz em termo espiritual, carma o sofrimento é dos pais ou é das crianças?
CHICO - A criança excepcional sempre me impressionou, pelo sofrimento de que ela é portadora, não somente em se tratando dela mesma, mas também dos pais, e isso tem sido tema de várias conversações minhas com nosso Emmanuel, que é o Guia Espiritual de nossas tarefas. Ele então disse que em regra geral, a criança excepcional é o suicida reencarnado. Reencarnado depois do suicídio recente, porque a pessoa quando pensa que se liquida, está apenas estragando ou perdendo a roupa de que a Providência Divina permite que se sirva durante a existência, que é o corpo físico, a verdade é que ela em si é um corpo espiritual; então, os remanescentes do suicídio acompanham a criatura que praticou a autodestruição para a vida do mais além. Lá, ela se demora algum tempo, amparada por amigos, que toda criatura tem afeições por toda parte; mas, volta à Terra com os remanescentes que levou daqui mesmo, após o suicídio. Se uma pessoa espatifou o crânio e o projétil atingiu o centro da fala, ela volta com a mudez; se atingiu apenas o centro da visão, volta cega, mas se atingiu determinadas regiões mais complexas do cérebro, vem em plena idiotia, e aí os centros fisiológicos não funcionam. A Endocrinologia teria de fazer um capítulo especial para estudar uma criança surda, muda, cega, paralítica, porque aí a criatura seria uma vida no santuário da vida, que é a parte mais delicada do cérebro. Se ela suicidou-se, mergulhando em águas profundas, vem com a disposição para o efizema, o efizema infantil ou da mocidade nos primeiros dias da vida; se ela se enforcou, vem com a paraplegia, depois de uma simples queda, que toda criança cai (do colo da ama, do colo da mãezinha); então, quando o processo é de enforcamento, a vértebra que foi deslocada vem mais fraca e, numa simples queda, a criança é acometida pela paraplegia. E nós vemos por aí outras crianças que vêm completamente perturbadas: a esquizofrenia, por exemplo, diz-se é do suicídio depois do homicídio. O complexo de culpa adquire dimensões tamanhas que o quimismo do cérebro se modifica e vem a esquizofrenia como uma doença verificável, porque através dos líquidos expelidos pelo corpo é possível detectar os princípios de esquizofrenia; mas o esquizofrênico é o homicida que se fez suicida, porque o complexo de culpa é tão grande, o remorso é tão terrível que aquilo se reflete na próxima vida física da criatura durante algum tempo ou muito tempo.
Pergunta - Uma criança retardada sente o que o pai ou a mãe fala, por exemplo, palavras de amor, palavras bruscas?
CHICO - Sentem, sentem e ouvem, registram e sabem de que modo estão sendo tratadas; elas são profundamente lúcidas na intimidade do próprio ser. A criança vem somente com aqueles que são capazes de amá-la e ajudá-la a passar aquele transe temporário de treze, vinte, trinta anos; que geralmente os excepcionais desencarnam muito cedo. Certa feita, uma senhora nos procurou em Uberaba e disse: eu sou mãe dessa criança excepcional, me sinto uma criatura amarga, sofro muito com isso, o que Emmanuel diz para mim? Ele disse assim: - Minha filha, a maternidade é um privilégio que DEUS concedeu à mulher; então, toda mulher desfruta desse privilégio da Providência Divina, mas, os filhos excepcionais são confiados tão somente às grandes mulheres que têm capacidade de amar até o infinito." (páginas 91 a 93)
(Trechos extraídos do livro Chico, de Francisco do autor Adelino da Silveira, editora Cultura Espírita União)***
  Pinga Fogo [ 20 e 21 de Dezembro de 1971- TV Tupi -São Paulo]
 Criancas com Graves Deficiencias
 Leporace Leporace (entrevistador) - 
Pergunta - Eu gostaria de perguntar, Chico Xavier, que espécie de missão vêm cumprir essas crianças que lotam aqui em São Paulo as Casas André Luiz? São crianças que nascem cegas, surdas, mudas, aleijadas e a gente só sabe que vivem porque respiram.
Então, eu pergunto: onde, dentro dos fenômenos cármicos, onde, dentro da evolução espiritualista, nós podemos condicionar essas crianças, essas criaturas de Deus? Que fazem elas sobre a face da Terra, além de sofrer e de inspirar piedade aos que as protegem e aos que as mantêm? Eu gostaria de uma resposta sua a essa pergunta, Chico.
CHICO- Algumas vezes temos sido orientados quanto à instrução a que se refere o nosso querido entrevistador, nosso amigo Sr. Vicente Leporace.
Quando cometemos o suicídio, quando perpetramos o homicídio, conscientemente, nós dilapidamos em nós mesmos determinadas estruturas do nosso corpo espiritual. Passamos então à condição de criaturas claramente alienadas do ponto de vista do equilíbrio mental na vida próxima.
Sem o corpo, somos hospitalizados em cidades e colônias do mundo espiritual pela benemerência de Nosso Senhor Jesus Cristo, através dos Seus mensageiros, como verdadeiros doentes mentais em estado grave. E tão somente o regresso ao corpo físico pode operar em nós, isto é, facultar-nos a possibilidade da reestruturação daqueles mesmos implementos do corpo espiritual que nós destruímos. Muitas vezes a idiotia não é senão o processo de internação que solicitamos, por nós mesmos, com as nossas necessidades, para que venhamos a entrar num período de autotratamento intensivo.
E nada dói tanto, e nada nos suscita tanto amor quanto uma criança doente. Pais, mães, conselheiros, orientadores, amigos, uma criança doente nos enternece. Uma criança doente é uma obra de Deus mutilada em nossas mãos. Mas isso não vem de Deus, pois Deus nos criou para a harmonia, para a felicidade. Agora, nós criamos os mecanismos do sofrimento, da expiação, em nós mesmos. O inferno reside em nossa própria mente, quando nós infernizamos a nossa vida, quando entramos num processo de culpa intensiva, absoluto, conscientemente nós estragamos a nossa vida cerebral, o nosso mundo mental. Nós obstruímos os canais do equilíbrio, perdemos a conexão com aqueles que são os benfeitores máximos da nossa vida, e eles mesmos, por amor a nós, nos ajudam, nos colocando em braços de mães maravilhosas, de pais abnegadíssimos, que nos ajudam em nossa própria reestruturação. Nada dói tanto como uma criança doente.
Muitas vezes ouvi amigos com muita experiência da vida indicando a eutanásia para os casos de idiotia. Mas, em nome de Jesus, nunca devemos fazer isto! Amar sempre os nossos filhos, os nossos descendentes que estejam nessa condição, e tanto quanto possível ampará-los quando eles estejam desprovidos de lar. É uma benção amparar alguém como esses nossos irmãos que estão em condições assim tão dolorosas, porque amanhã eles serão também nossos benfeitores. Bem-aventurados aqueles que puderem estender o coração e as mãos para as criancinhas que nascem nessa condição."
.

Perdão das ofensas


14. Quantas vezes perdoarei a meu irmão? Perdoar-lhe-eis, não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes. Aí tendes um dos ensinos de Jesus que mais vos devem percutir a inteligência e mais alto falar ao coração. Confrontai essas palavras de misericórdia com a oração tão simples, tão resumida e tão grande em suas aspirações, que ensinou a seus discípulos, e o mesmo pensamento se vos deparará sempre. Ele, o justo por excelência, responde a Pedro: perdoarás, mas ilimitadamente; perdoarás cada ofensa tantas vezes quantas ela te for feita; ensinarás a teus irmãos esse esquecimento de si mesmo, que torna uma
criatura invulnerável ao ataque, aos maus procedimentos e às injúrias; serás brando e humilde de coração, sem medir a tua mansuetude; farás, enfim, o que desejas que o Pai celestial por ti faça. Não está ele a te perdoar freqüentemente? Conta porventura as vezes que o seu perdão desce a te apagar as faltas?
Prestai, pois, ouvidos a essa resposta de Jesus e, como Pedro, aplicai-a a vós mesmos.
Perdoai, usai de indulgência, sede caridosos, generosos, pródigos até do vosso amor. Dai, que o Senhor vos restituirá; perdoai, que o Senhor vos perdoará; abaixai-vos, que o Senhor vos elevará; humilhai-vos, que o Senhor fará vos assenteis à sua direita. Ide, meus bem-amados, estudai e comentai estas palavras que vos dirijo da parte dAquele que, do alto dos esplendores celestes, vos tem sempre sob as suas vistas e prossegue com amor na tarefa ingrata a que deu começo, faz dezoito séculos. Perdoai aos vossos irmãos, como precisais que se vos perdoe. Se seus atos pessoalmente vos prejudicaram, mais um motivo aí tendes para serdes indulgentes, porquanto o mérito do perdão é proporcionado à gravidade do mal. Nenhum merecimento teríeis em relevar os agravos dos vossos irmãos, desde que não passassem de simples arranhões. Espíritas, jamais vos esqueçais de que, tanto por palavras, como por atos, o perdão das injúrias não deve ser um termo vão. Pois que vos dizeis espíritas, sede-o. Olvidai o mal que vos hajam feito e não penseis senão numa coisa: no bem que podeis fazer. Aquele que enveredou por esse caminho não tem que se afastar daí, ainda que por pensamento, uma vez que sois responsáveis pelos vossos pensamentos, os quais todos Deus conhece. Cuidai, portanto, de os expungir de todo sentimento de rancor. Deus sabe o que demora no fundo do coração de cada um de seus filhos. Feliz, pois, daquele que pode todas as noites adormecer, dizendo: Nada tenho contra o meu próximo. Simeão. (Bordéus, 1862.)

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Os Instrumentos da Perfeição




Naquela noite, Simão Pedro trazia à conversação o espírito ralado por extremo desgosto.

Agastara-se com parentes descriteriosos e rudes.

Velho tio acusara-o de dilapidador dos bens da família e um primo ameaçara esbofeteá-lo na via pública.

Guardava, por isso, o semblante carregado e austero.

Quando o Mestre leu algumas frases dos Sagrados Escritos, o pescador desabafou.

Descreveu o conflito com a parentela e Jesus o ouviu em silêncio.

Ao término do longo relatório afetivo, indagou o Senhor: - E que fizeste, Simão, ante as arremetidas dos familiares incompreensivos?

- Sem dúvida, reagi como devia! - respondeu o apóstolo, veemente.

- Coloquei cada um no lugar próprio.

Anunciei, sem rebuços, as más qualidades de que são portadores.

Meu tio é raro exemplar de sovinice e meu primo é mentiroso contumaz.

Provei, perante numerosa assistência, que ambos são hipócritas, e não me arrependi do que fiz.

O Mestre refletiu por minutos longos e falou, compassivo: - Pedro, que faz um carpinteiro na construção de uma casa? - Naturalmente, trabalha - redargüiu o interpelado, irritadiço.

- Com quê? - tornou o Amigo Celeste, bem-humorado.

- Usando ferramentas.

Após a resposta breve de Simão, o Cristo continuou: - As pessoas com as quais nascemos e vivemos na Terra são os primeiros e mais importantes instrumentos que recebemos do Pai, para a edificação do Reino do Céu em nós mesmos.

Quando falhamos no aproveitamento deles, que constituem elementos de nossa melhoria, é quase impossível triunfar com recursos alheios, porque o Pai nos concede os problemas da vida, de acordo com a nossa capacidade de lhes dar solução.

A ave é obrigada a fazer o ninho, mas não se lhe reclama outro serviço.

A ovelha dará lã ao pastor; no entanto, ninguém lhe exige o agasalho pronto.

Ao homem foram concedidas outras tarefas, quais sejam as do amor e da humildade, na ação inteligente e constante para o bem comum, a fim de que a paz e a felicidade não sejam mitos na Terra.

Os parentes próximos, na maioria das vezes, são o martelo ou o serrote que podemos utilizar a benefício da construção do templo vivo e sublime, por intermédio do qual o Céu se manifestará em nossa alma.

Enquanto o marceneiro usa as suas ferramentas, por fora, cabe-nos aproveitar as nossas, por dentro.

Em todas as ocasiões, o ignorante representa para nós um campo de benemerência espiritual; o mau é desafio que nos põe a bondade à prova; o ingrato é um meio de exercitarmos o perdão; o doente é uma lição à nossa capacidade de socorrer.

Aquele que bem se conduz, em nome do Pai, junto de familiares endurecidos ou indiferentes, prepara-se com rapidez para a glória do serviço à Humanidade, porque, se a paciência aprimora a vida, o tempo tudo transforma.

Calou-se Jesus e, talvez porque Pedro tivesse ainda os olhos indagadores, acrescentou serenamente:

- Se não ajudamos ao necessitado de perto, como auxiliaremos os aflitos, de longe? Se não amamos o irmão que respira conosco os mesmos ares, como nos consagraremos ao Pai que se encontra no Céu?

Depois destas perguntas, pairou na modesta sala de Cafarnaum expressivo silêncio que ninguém ousou interromper.

Neio Lucio
Psicografia de Francisco Candido Xavier. 
Livro: Jesus no Lar *  

A fé: mãe da esperança e da caridade


11. Para ser proveitosa, a fé tem de ser ativa; não deve entorpecer-se. Mãe de todas as virtudes que conduzem a Deus, cumpre-lhe velar atentamente pelo desenvolvimento dos filhos que gerou.
A esperança e a caridade são corolários da fé e formam com esta uma trindade inseparável. Não é a fé que faculta a esperança na realização das promessas do Senhor? Se não tiverdes fé, que esperareis? Não é a fé que dá o amor? Se não tendes fé, qual será o vosso reconhecimento e, portanto, o vosso amor?
Inspiração divina, a fé desperta todos os instintos nobres que encaminham o homem para o bem. É a base da regeneração. Preciso é, pois, que essa base seja forte e durável, porquanto, se a mais ligeira dúvida a abalar que será do edifício que sobre ela construirdes? Levantai, conseguintemente, esse edifício sobre alicerces inamovíveis. Seja mais forte a vossa fé do que os sofismas e as zombarias dos incrédulos, visto que a fé que não afronta o ridículo dos homens não é fé verdadeira.
A fé sincera é empolgante e contagiosa; comunica-se aos que não na tinham, ou, mesmo, não desejariam tê-la. Encontra palavras persuasivas que vão à alma. ao passo que a fé aparente usa de palavras sonoras que deixam frio e indiferente quem as escuta. Pregai pelo exemplo da vossa fé, para a incutirdes nos homens. Pregai pelo exemplo das vossas obras para lhes demonstrardes o merecimento da fé. Pregai pela vossa esperança firme, para lhes dardes a ver a confiança que fortifica e põe a criatura em condições de enfrentar todas as vicissitudes da vida.
Tende, pois, a fé, com o que ela contém de belo e de bom, com a sua pureza, com a sua racionalidade. Não admitais a fé sem comprovação, cega filha da cegueira. Amai a Deus, mas sabendo porque o amais; crede nas suas promessas, mas sabendo porque acreditais nelas; segui os nossos conselhos, mas compenetrados do um que vos apontamos e dos meios que vos trazemos para o atingirdes. Crede e esperai sem desfalecimento: os milagres são obras da fé. - José, Espírito protetor. (Bordéus, 1862.)

domingo, 24 de abril de 2011

Perguntas / Resposta



 
   


1-Doenças  e cura [I]
Pergunta: As pessoas enfermas permanecem enfermas após o desencarne? Mesmo que sejam espíritos claramente iluminados? Ou existem casos e casos?
Resposta: Quando contrariamos as Leis Universais, inscritas em nossa consciência e que se baseiam no Evangelho de amor do Cristo, adquirimos débitos que se refletem na vestimenta do espírito, isto é, o perispírito.
A estadia na carne propicia que o perispírito transmita ao corpo físico esses reflexos negativos, o que implica em uma depuração do ser.
Porém, quando a pessoa vivencia esse processo com uma mentalidade negativa de revolta, de pessimismo, sem procurar a renovação diária para o bem; sem procurar beneficiar aos demais, ela impede esse processo de depuração.
É como se fôssemos passar por uma cirurgia e fizéssemos o contrário de todas as recomendações necessária.
Assim, nesses casos, a enfermidade não propiciou significativa renovação íntima diante da vida, não correu uma modificação interior, ou seja, do padrão mental desse espírito.
Ele não soube passar pelo sofrimento.Logo, como não houve a mudança, depois da morte ele continuará plasmando no perispírito o que cultivou em sua mente durante a vida - permanecerá enfermo.Com os espíritos que, independente das circunstâncias, vivenciaram o Evangelho do Cristo, o processo é completamente diferente.

2-Doenças  e cura [II] 
Pergunta: É possível uma pessoa somar em seus pensamentos uma depressão? Ela a tem em consequência do passado ou não?
Resposta: A depressão pode ter como causa a consciência que tem o espírito de débitos passados sob a forma de culpa.
Entretanto, não podemos generalizar a afirmação.
De qualquer modo, o cultivo de pensamentos negativos, a persistência em baixo padrão vibratório, colabora para que esse estado aconteça e até se agrave a ponto de criar um círculo vicioso.
Por outro lado, o pensamento positivo, a força de vontade em elevar o nosso padrão vibratório, o serviço ao próximo, a prática do amor nos auxilia na manutenção de nosso equilíbrio.

3-Doenças  e cura [III] 
Pergunta: Considerando o grau de merecimento, como se dá a cura nos tratamentos físico-espirituais? Esta cura é lenta e progressiva ou é rápida?
Resposta: O processo de tratamento espiritual é muito relativo, e a cura já pe por si a prova do merecimento do doente, sendo que a mesma ocorre muitas vezes de forma rápida.
Ao paciente compete a conquista da cura de modo definitivo, buscando seu fortalecimento interior pela reforma moral e prática da caridade. Lembremos sempre que Jesus após praticar suas curas, recomendava. "Vá e não peques mais". 

4-Educação Mediunica
Pergunta: O que acontece para uma pessoa que se recusa a desenvolver sua mediunidade, já que esta mediunidade pode ajudar muitas pessoas? Haverá algum castigo ou cobrança?
Resposta: Energias que não doamos podem ser fator de desequilíbrio em nossas vidas. Nossa consciência, em geral, nos cobra uma atitude perante as tarefas que nos cabem. Praticando o Bem em qualquer parte, estaremos colocando nossa mediunidade a serviços de todos.
 André Luiz afirma: "Todo bem que não se faz é um mal que se pratica".

5-Espírito e Perispírito
Pergunta: O que é espírito e perispírito e qual a diferença entre eles?
Resposta: Os Espíritos respondendo a Kardec sobre essa questão disseram que o espírito é (...) "o princípio inteligente do Universo" (...)
Quando questionados sobre a definição de espírito, responderam (...) "são os seres inteligentes da criação. Povoam o Universo, fora do mundo material".
Em virtude da sua natureza etérea, o espírito; propriamente dito, para poder atuar diretamente sobre a matéria mais grosseira, necessita de um intermediário, isto é, de um elemento que o ligue à essa matéria.
A partir daí, processa eletromagneticamente a constituição desse elemento, gerando o que os espíritos chamam de perispírito.

6-Estudo da Doutrina
Pergunta: Por que quando estamos lendo um livro espírita nossos pensamentos se dispersam?
Resposta: É preciso, antes de qualquer coisa, ter um método de leitura, e não ler nas horas de cansaço ou sono.Procure recomeçar a leitura sempre que o fato ocorrer. Faça-o frase por frase, grifando suas dúvidas para posterior estudo.

 Emmanuel
Psicografia Francisco Candido Xavier
Livro:Plantão De Respostas*

Caracteres da perfeição


1. Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam. - Porque, se somente amardes os que vos amam que recompensa tereis disso? Não fazem assim também os publicanos? - Se unicamente saudardes os vossos irmãos, que fazeis com isso mais do que outros? Não fazem o mesmo os pagãos? -Sede, pois, vós outros, perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial. (S. MATEUS, cap. V, vv. 44, 46 a 48.)


2. Pois que Deus possui a perfeição infinita em todas as coisas, esta proposição: "Sede perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial", tomada ao pé da letra, pressuporia a possibilidade de atingir-se a perfeição absoluta. Se à criatura fosse dado ser tão perfeita quanto o Criador, tornar-se-ia ela igual a este, o que é inadmissível. Mas, os homens a quem Jesus falava não compreenderiam essa nuança, pelo que ele se limitou a lhes apresentar um modelo e a dizer-lhes que se esforçassem pelo alcançar.
Aquelas palavras, portanto, devem entender-se no sentido da perfeição relativa, a de que a Humanidade é suscetível e que mais a aproxima da Divindade. Em que consiste essa perfeição? Jesus o diz: "Em amarmos os nossos inimigos, em fazermos o bem aos que nos odeiam, em orarmos pelos que nos perseguem." Mostra ele desse modo que a essência da perfeição é a caridade na sua mais ampla acepção, porque implica a prática de todas as outras virtudes. Com efeito, se se observam os resultados de todos os vícios e, mesmo, dos simples defeitos, reconhecer-se-á nenhum haver que não altere mais ou menos o sentimento da caridade, porque todos têm seu princípio no egoísmo e no orgulho, que lhes são a negação; e isso porque tudo o que sobreexcita o sentimento da personalidade destrói, ou, pelo menos, enfraquece os elementos da verdadeira caridade, que são: a benevolência, a indulgência, a abnegação e o devotamento. Não podendo o amor do próximo, levado até ao amor dos inimigos, aliar-se a nenhum defeito contrário à caridade, aquele amor é sempre, portanto, indício de maior ou menor superioridade moral, donde decorre que o grau da perfeição está na razão direta da sua extensão. Foi por isso que Jesus, depois de haver dado a seus discípulos as regras da caridade, no que tem de mais sublime, lhes disse: "Sede perfeitos, como perfeito é vosso Pai celestial."

sábado, 23 de abril de 2011

Visão Espírita da Páscoa


 
Eis-nos, uma vez mais, às vésperas de mais uma Páscoa. Nosso pensamento e nossa emoção, ambos cristãos, manifestam nossa sensibilidade psíquica. Deixando de lado o apelo comercial da data, e o caráter de festividade familiar, a exemplo do Natal, nossa atenção e consciência espíritas requerem uma explicação plausível do significado da data e de sua representação perante o contexto filosófico-científico-moral da Doutrina Espírita.

Deve-se comemorar a Páscoa? Que tipo de celebração, evento ou homenagem é permitida nas instituições espíritas? Como o Espiritismo visualiza o acontecimento da paixão, crucificação, morte e ressurreição de Jesus?

Em linhas gerais, as instituições espíritas não celebram a Páscoa, nem programam situações específicas para "marcar" a data, como fazem as demais religiões ou filosofias "cristãs". Todavia, o sentimento de religiosidade que é particular de cada ser-Espírito, é, pela Doutrina Espírita, respeitado, de modo que qualquer manifestação pessoal ou, mesmo, coletiva, acerca da Páscoa não é proibida, nem desaconselhada.

O certo é que a figura de Jesus assume posição privilegiada no contexto espírita, dizendo-se, inclusive, que a moral de Jesus serve de base para a moral do Espiritismo. Assim, como as pessoas, via de regra, são lembradas, em nossa cultura, pelo que fizeram e reverenciadas nas datas principais de sua existência corpórea (nascimento e morte), é absolutamente comum e verdadeiro lembrarmo-nos das pessoas que nos são caras ou importantes nestas datas. Não há, francamente, nenhum mal nisso.

Mas, como o Espiritismo não tem dogmas, sacramentos, rituais ou liturgias, a forma de encarar a Páscoa (ou a Natividade) de Jesus, assume uma conotação bastante peculiar. Antes de mencionarmos a significação espírita da Páscoa, faz-se necessário buscar, no tempo, na História da Humanidade, as referências ao acontecimento.

A Páscoa, primeiramente, não é, de maneira inicial, relacionada ao martírio e sacrifício de Jesus. Veja-se, por exemplo, no Evangelho de Lucas (cap. 22, versículos 15 e 16), a menção, do próprio Cristo, ao evento: "Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa, antes da minha paixão. Porque vos declaro que não tornarei a comer, até que ela se cumpra no Reino de Deus." Evidente, aí, a referência de que a Páscoa já era uma "comemoração", na época de Jesus, uma festa cultural e, portanto, o que fez a Igreja foi "aproveitar-se" do sentido da festa, para adaptá-la, dando-lhe um novo significado, associando-o à "imolação" de Jesus, no pós-julgamento, na execução da sentença de Pilatos.

Historicamente, a Páscoa é a junção de duas festividades muito antigas, comuns entre os povos primitivos, e alimentada pelos judeus, à época de Jesus. Fala-se do "pesah", uma dança cultural, representando a vida dos povos nômades, numa fase em que a vinculação à terra (com a noção de propriedade) ainda não era flagrante. Também estava associada à "festa dos ázimos", uma homenagem que os agricultores sedentários faziam às divindades, em razão do início da época da colheita do trigo, agradecendo aos Céus, pela fartura da produção agrícola, da qual saciavam a fome de suas famílias, e propiciavam as trocas nos mercados da época. Ambas eram comemoradas no mês de abril (nisan) e, a partir do evento bíblico denominado "êxodo" (fuga do povo hebreu do Egito), em torno de 1441 a.C., passaram a ser reverenciadas juntas. É esta a Páscoa que o Cristo desejou comemorar junto dos seus mais caros, por ocasião da última ceia.

Logo após a celebração, foram todos para o Getsêmani, onde os discípulos invigilantes adormeceram, tendo sido o palco do beijo da traição e da prisão do Nazareno.

Mas há outros elementos "evangélicos" que marcam a Páscoa. Isto porque as vinculações religiosas apontam para a quinta e a sexta-feira santas, o sábado de aleluia e o domingo de páscoa. Os primeiros relacionam-se ao "martírio", ao sofrimento de Jesus - tão bem retratado neste último filme hollyodiano (A Paixão de Cristo, segundo Mel Gibson) -, e os últimos, à ressurreição e a ascensão de Jesus.

No que concerne à ressurreição, podemos dizer que a interpretação tradicional aponta para a possibilidade da mantença da estrutura corporal do Cristo, no post-mortem, situação totalmente rechaçada pela ciência, em virtude do apodrecimento e deterioração do envoltório físico. As Igrejas cristãs insistem na hipótese do Cristo ter "subido aos Céus" em corpo e alma, e fará o mesmo em relação a todos os "eleitos" no chamado "juízo final". Isto é, pessoas que morreram, pelos séculos afora, cujos corpos já foram decompostos e reaproveitados pela terra, ressurgirão, perfeitos, reconstituindo as estruturas orgânicas, do dia do julgamento, onde o Cristo, separá justos e ímpios.

A lógica e o bom-senso espíritas abominam tal teoria, pela impossibilidade física e pela injustiça moral. Afinal, com a lei dos renascimentos, estabelece-se um critério mais justo para aferir a "competência" ou a "qualificação" de todos os Espíritos. Com "tantas oportunidades quanto sejam necessárias", no "nascer de novo", é possível a todos progredirem.

Mas, como explicar, então as "aparições" de Jesus, nos quarenta dias póstumos, mencionadas pelos religiosos na alusão à Páscoa?

A fenomenologia espírita (mediúnica) aponta para as manifestações psíquicas descritas como mediunidades. Em algumas ocasiões, como a conversa com Maria de Magdala, que havia ido até o sepulcro para depositar algumas flores e orar, perguntando a Jesus - como se fosse o jardineiro - após ver a lápide removida, "para onde levaram o corpo do Raboni", podemos estar diante da "materialização", isto é, a utilização de fluido ectoplásmico - de seres encarnados - para possibilitar que o Espírito seja visto (por todos). Igual circunstância se dá, também, no colóquio de Tomé com os demais discípulos, que já haviam "visto" Jesus, de que ele só acreditaria, se "colocasse as mãos nas chagas do Cristo". E isto, em verdade, pelos relatos bíblicos, acontece. Noutras situações, estamos diante de uma outra manifestação psíquica conhecida, a mediunidade de vidência, quando, pelo uso de faculdades mediúnicas, alguém pode ver os Espíritos.

A Páscoa, em verdade, pela interpretação das religiões e seitas tradicionais, acha-se envolta num preocupante e negativo contexto de culpa. Afinal, acredita-se que Jesus teria padecido em razão dos "nossos" pecados, numa alusão descabida de que todo o sofrimento de Jesus teria sido realizado para "nos salvar", dos nossos próprios erros, ou dos erros cometidos por nossos ancestrais, em especial, os "bíblicos" Adão e Eva, no Paraíso. A presença do "cordeiro imolado", que cumpre as profecias do Antigo Testamento, quanto à perseguição e violência contra o "filho de Deus", está flagrantemente aposta em todas as igrejas, nos crucifixos e nos quadros que relatam - em cores vivas - as fases da via sacra.

Esta tradição judaico-cristã da "culpa" é a grande diferença entre a Páscoa tradicional e a Páscoa espírita, se é que esta última existe. Em verdade, nós espíritas devemos reconhecer a data da Páscoa como a grande - e última lição - de Jesus, que vence as iniqüidades, que retorna triunfante, que prossegue sua cátedra pedagógica, para asseverar que "permaneceria eternamente conosco", na direção bussolar de nossos passos, doravante.

Nestes dias de festas materiais e/ou lembranças do sofrimento do Rabi, possamos nós encarar a Páscoa como o momento de transformação, a vera evocação de liberdade, pois, uma vez despojado do envoltório corporal, pôde Jesus retornar ao Plano Espiritual para, de lá, continuar "coordenando" o processo depurativo de nosso orbe. Longe da remissão da celebração de uma festa pastoral ou agrícola, ou da libertação de um povo oprimido, ou da ressurreição de Jesus, possa ela ser encarada por nós, espíritas, como a vitória real da vida sobre a morte, pela certeza da imortalidade e da reencarnação, porque a vida, em essência, só pode ser conceituada como o amor, calcado nos grandes exemplos da própria existência de Jesus, de amor ao próximo e de valorização da própria vida.

Nesta Páscoa, assim, quando estiveres junto aos teus mais caros, lembra-te de reverenciar os belos exemplos de Jesus, que o imortalizam e que nos guiam para, um dia, também estarmos na condição experimentada por ele, qual seja a de "sermos deuses", "fazendo brilhar a nossa luz".

Comemore, então, meu amigo, uma "outra" Páscoa. A sua Páscoa, a da sua transformação, rumo a uma vida plena.

Marcelo Henrique Pereira

Verdadeira pureza. - Mãos não lavadas


8. Então os escribas e os fariseus, que tinham vindo de Jerusalém, aproximaram-se de Jesus e lhe disseram: “Por que violam os teus discípulos a tradição dos antigos, uma vez que não lavam as mãos quando fazem suas refeições?” Jesus lhes respondeu: “Por que violais vós outros o mandamento de Deus, para seguir a vossa tradição? Porque Deus pôs este mandamento: Honrai a vosso pai e a vossa mãe; e este outro: Seja punido de morte aquele que disser a seu pai ou a sua mãe palavras ultrajantes; e vós outros, no entanto, dizeis: Aquele que haja dito a seu pai ou a sua mãe: - Toda oferenda que faço a Deus vos é proveitosa, satisfaz à lei, - ainda que depois não honre, nem assista a seu pai ou à sua mãe. Tornam assim inútil o mandamento de Deus, pela vossa tradição. Hipócritas, bem profetizou de vós Isaías, quando disse: Este povo me honra de lábios, ma s conserva longe de mim o coração; é em vão que me honram ensinando máximas e ordenações humanas.” Depois, tendo chamado o povo, disse: “Escutai e compreendei bem isto: - Não é o que entra na boca que macula o homem; o que sai da boca do homem é que o macula. - O que sai da boca procede do coração e é o que torna impuro o homem; - porquanto do coração é que partem os maus pensamentos, os assassínios, os adultérios, as fornicações, os latrocínios, os falsos-testemunhos, as blasfêmias e as maledicências. - Essas são as coisas que tornam impuro o homem; o comer sem haver lavado as mãos não é o que o torna impuro.”
Então, aproximando-se, disseram-lhe seus discípulos: “Sabeis que, ouvindo o que acabais de dizer, os fariseus se escandalizaram?” - Ele, porém, respondeu: “Arrancada será toda planta que meu Pai celestial não plantou. - Deixai-os, são cegos que conduzem cegos; se um cego conduz outro, caem ambos no fosso.”( S. Mateus, cap. XV, vv. 1 a 20.)
9. Enquanto ele falava, um fariseu lhe pediu que fosse jantar em sua companhia. Jesus foi e sentou-se à mesa. - O fariseu entrou então a dizer consigo mesmo: "Por que não lavou ele as mãos antes de jantar?” Disse-lhe, porém, o Senhor: "Vós outros, fariseus, pondes grandes cuidado em limpar o exterior do copo e do prato; entretanto, o interior dos vossos corações está cheio de rapinas e de iniqüidades. Insensatos que sois! aquele que fez o exterior não é o que faz também o interior?" (S. LUCAS, cap. XI. vv., 37 a 40.)
10. Os judeus haviam desprezado os verdadeiros mandamentos de Deus para se aferrarem à prática dos regulamentos que os homens tinham estatuído e da rígida observância desses regulamentos faziam casos de consciência. A substância, muito simples, acabara por desaparecer debaixo da complicação da forma. Como fosse muito mais fácil praticar atos exteriores, do que se reformar moralmente, lavar as mãos do que expurgar o coração, iludiram-se a si próprios os homens, tendo-se como quites para com Deus, por se conformarem com aquelas práticas, conservando-se tais quais eram, visto se lhes ter ensinado que Deus não exigia mais do que isso. Dai o haver dito o profeta: É em vão que este povo me honra de lábios, ensinando máximas e ordenações humanas. Verificou-se o mesmo com a doutrina moral do Cristo, que acabou por ser atirada para segundo plano, donde resulta que muitos cristãos, a exemplo dos antigos judeus, consideram mais garantida a salvação por meio das práticas exteriores, do que pelas da moral. E a essas adições, feitas pelos homens à lei de Deus, que Jesus alude, quando diz: Arrancada será toda planta que meu Pai celestial não plantou.
O objetivo da religião é conduzir a Deus o homem. Ora, este não chega a Deus senão quando se torna perfeito. Logo, toda religião que não torna melhor o homem, não alcança o seu objetivo. Toda aquela em que o homem julgue poder apoiar-se para fazer o mal, ou é falsa, ou está falseada em seu principio. Tal o resultado que dão as em que a forma sobreleva ao fundo. Nula é a crença na eficácia dos sinais exteriores, se não obsta a que se cometam assassínios, adultérios, espoliações, que se levantem calúnias, que se causem danos ao próximo, seja no que for. Semelhantes religiões fazem supersticiosos, hipócritas, fanáticos; não, porém, homens de bem.
Não basta se tenham as aparências da pureza; acima de tudo, é preciso ter a do coração.